Esses dias vi um vídeo do Pausa para um Café indicando livros baseados em frases relacionadas a Signos e fiquei pensando qual seria a lista que eu faria. Como ainda temos alguns dias em Câncer, pensei em postar aqui qual história eu relacionaria com esse signo. Cheguei a uma conclusão que a princípio me chocou um pouco. eu atribuiria Câncer ao Ensaio sobre a Cegueira.
A sinopse da Companhia das Letras diz o seguinte sobre o livro
Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma 'treva branca' que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.
Espera aê... um livro que fala sobre um caos social gerado por um cegueira branca tem que ser aquariano, talvez escorpianino, mas canceriano?!
Se você nunca leu esse livro, por favor, tente ler. Se nunca o fez e quer mesmo assim continuar a acompanhar a postagem, tudo bem, eu não vou falar muitos detalhes, mas tome cuidado, pois algumas reflexões podem poluir sua própria interpretação.
A protagonista de Ensaio sobre a Cegueira é a "mulher do médico", a única não infectada pela misteriosa doença. A acompanhamos testemunhar situações terríveis que inegavelmente estão relacionadas a Urano e Plutão. Há a quebra das estruturas sociais, a perda da individualidade pelo bem coletivo e o despertar (revelação) de instintos sombrios na luta pela sobrevivência do ego. Contudo o que essa protagonista, a única que enxerga em todo o caos, representa efetivamente nessa história?
Cena da versão cinematográfica do livro. Fonte: cinemascope
Observamos essa personagem exibir uma força e determinação tremenda para ajudar as pessoas ao seu redor. E isso não se limita a guiar, dar banhos ou alimentar. Realmente é admirável todo seu esforço para nutrir seu grupo com essas tarefas, mas perceba que ela não é a donzela-do-lar comumente relacionada por aí ao signo de Câncer. Vemos sua sensibilidade lhe dando mais e mais força para ser como uma amazona, quando tudo está saindo do controle e interferindo na segurança dos mais próximos, ela estabelece sua própria ordem. E não faz isso expondo sua liderança, não precisa dizer a todos que consegue enxergar, simplesmente age quando necessário para proteger quem precisa.
Ao longo do livro, quando observamos os comentários dos cegos ao seu redor, percebemos algumas pistas sobre o que (talvez) a fez ser imune a cegueira branca:
Se eu voltar a ter olhos, olharei verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes a alma […] ou o espírito, o nome pouco importa […] Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. — José Saramago, “Ensaio sobre a cegueira”, São Paulo: Companhia das Letras, 1995
Sem a estruturação social tão ligada a Capricórnio, vemos sim nas páginas do livro um tanto de Plutão em sua forma mais instintiva que pode ser extremamente cruel, mas que pode ser também a força primordial para a regeneração. Qual a verdadeira natureza que aparece em um grupo quando não se tem um governo instituído, uma função a cumprir e olhos para analisar? É com a força sensível justamente do signo oposto a Capricórnio, Câncer, que vemos essa personagem sobreviver nessa sociedade ruida. Sem a sensibilidade de admirar a personalidade primordial de cada indivíduo, sua função ativa tende a enfraquecer e ele segue sem rumo por aí, buscando apenas cumprir expectativas alheias.
O eixo Câncer x Capricórnio fala resumidamente sobre passado x presente x futuro, família x sociedade e como todos os outros eixos o ideal é trabalhar essa energia visando o equilíbrio e não os polos. Como foi falado em outro post, sem respeitar as necessidades emocionais, não conseguimos a verdadeira satisfação ao realizar nossas funções sociais. Não seria isso um tipo de cegueira branca?
Ficaria horas em um Clube de Leitura falando sobre isso, mas não vou torturá-los com uma postagem imensa. Quando fui procurar citações do livro para colocar aqui, achei essa do próprio escritor. Concluí que as falas resumem a sensação que eu tive ao terminar o livro e o que me motivou a focar mais em Câncer do que em Aquário, Escorpião.
"Acho que a grande revolução, e o livro «Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a revolução da bondade. Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons, os problemas do mundo estariam resolvidos. Claro que isso nem é uma utopia, é um disparate. Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princípios éticos. Pelo menos a sua passagem pelo este mundo não terá sido inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa. Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemática acção perniciosa contra o resto da humanidade. Nem é preciso dar-lhes nomes." — José Saramago, in " Folha de S. Paulo, Outubro 1995" fonte: http://www.citador.pt/