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Helu

Amélie e o eixo de Peixes & Virgem


Piscianos e virginianos. Popularmente os dois são vistos como extremos irreconciliáveis: um sonhador, o outro prático; a vítima viciada e o médico workholic. Essa leitura radical e estereotipada parece esquecer que os dois signos compõem o mesmo eixo: o do servir. A mesma energia está presente nos dois, mas cada um a elabora de uma maneira diferente para servir ao mundo. Para falar um pouquinho mais sobre isso, escolhi o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulin.

Mas, Helu, a Amélie não é pisciana ou virginiana. Talvez seja geminiana pelas datas faladas no filme, como você pode escolher a personagem para falar sobre esse eixo? Ora, essa postagem não é sobre o comportamento de um personagem com o signo solar tal, é sobre como podemos ver os extremos (os desafios!) e equilíbrio do eixo Virgem & Peixes. Todos temos esse eixo no mapa astral e, como todos os outros eixos, é bom prestarmos atenção para ver se não focamos muito em um extremo e esquecemos do outro.

O Peixe no aquário

O fabuloso destino de Amélie Poulin é um filme francês que conta as peculiaridades da personagem de mesmo nome. Logo na primeira narrativa do filme, nos deparamos com a contagem de tempo e espaço detalhadissimo da criação (fecundação) da personagem.

“Em 3 de setembro de 1973, às 18h28min32s, uma mosca califorídea, capaz de 14.670 batidas de asa por minuto pousou na Rua Saint Vicent, em Montmartre.”

A narração acelerada, mas cheia de detalhes, é um recurso constante no filme, intercalada a cenas lúdicas e personagens excêntricos que compõe o universo da personagem. E é justamente nesse contraste entre detalhismo paranoico e lúdico excêntrico que vemos os extremos do eixo Virgem e Peixes.

O regente de Virgem e Gêmeos, Mercúrio, representa, dentre outras coisas, nossa comunicação e nossa capacidade lógica tanto de aprendizado quanto de seletividade; enquanto Gêmeos leva a fama de ser mais voltado para a comunicação e aprendizado, Virgem aparenta mais a parte “cri-cri” desse simbolismo: é o grande analítico, perfeccionista, classificador. E é justamente esse último verbo que podemos notar constantemente no filme: Amélie (e o narrador onisciente) não apenas detalha minuciosamente certas cenas e pensamentos, mas também classifica constantemente as pessoas ao seu redor descrevendo suas manias, doenças e crises. É engraçado como essas descrições não tem um julgamento crítico, as informações são faladas como se representassem uma ficha que a personagem tem de cada um de seu convívio. Ao acompanhar a história da personagem, podemos ver que esse recurso está muito relacionado a sua dificuldade em interagir, de fato, com essas pessoas.

O modo como observa as outras pessoas lembra muito como o pai demonstrava seu amor quando ela criança: o único momento que ela sentia esse afeto era nos exames de rotina que ele administrava. Seu olhar de médico, racional, lógico, julgava a saúde de seu coração pelas aceleradas repentinas, sem nunca questionar se aquele sintoma estava relacionado com o simples prazer da menina por finalmente sentir seu afeto físico. Vemos, assim, a personagem encontrar refúgio no mundo que inventou aos 6 anos. Os pais, convencidos que ela tinha uma doença grave, passam a ensiná-la somente em casa e esse isolamento piora após a morte da mãe. O Pai, nunca afetuoso, se isola cada vez mais e Amélie passa a sonhar até ter idade de partir. Contudo, sem perceber, ela acaba levando esse isolamento por onde passa. É como um peixe dentro do aquário observando o mundo distorcido através do vidro.

A conversa entre a personagem e seu vizinho pintor representa bem esse distanciamento que ela leva.

Pintor - Depois de tantos anos, o único personagem que ainda não consegui captar é a moça com o copo de água. Ela está no centro e, no entanto, está fora.

Amélie - Talvez seja diferente dos outros.

(P) - Em quê?

(A) - Não sei”

(P) - Quando era pequena, não devia brincar muito com outras crianças. Talvez nunca.

O isolamento, seja ele físico ou mental, lembra muito as características piscianas. Relacionamos um dos regentes desse signo, Netuno, à fantasia, à inspiração, e esses recursos servem para entendermos – e colaboramos - melhor com o mundo: ao imaginar, conseguimos nos colocar no lugar de outra pessoa; ou vemos possibilidades simbólicas para uma outra solução que não é possível através da lógica palpável. Porém constantemente essa energia pisciana/netuniana pode causar comodismo, podemos ficar escravos das ilusões e nos recusarmos a vivenciar o que a realidade nos permite fazer para mudar uma certa situação. Essa ilusão também é vista no outro extremo do eixo, comumente vemos fobias relacionadas à Virgem por excesso de perfeccionismo. Essas características podem parecer muito diferentes nos atos extremos, mas, na verdade, fazem parte do excesso de dedicação e preocupação desse eixo. A servidão acontece através da empatia, mas a pisciana pode levá-lo a criar esse outro mundo (isolado ou de vítima) por não conseguir praticá-la na realidade, já no caso do simbolismo virginiano a empatia se manifesta pela preocupação em ser melhor para ajudar. O desequilíbrio do eixo pode influenciar o virgem a focar na crítica excessiva quando classifica as pessoas ou a si mesmo, ou pode fazer o pisciano a paralisar ao perceber que sua grande meta não acontecerá exatamente do jeitinho que se iludiu.

O salto suicida

“É 29 de Agosto. Em 48 horas, o destino de Amélie Poulain mudará.”

Enquanto vemos vários personagens envolvidos no assunto da mídia (morte de uma celebridade), a personagem ignora o fato e passa a traçar seu destino ao achar uma caixa escondida em seu banheiro. Achar o dono da caixa é uma mescla da curiosidade mercuriana com a benevolência de Netuno. Através dessa experiência a personagem entra em contato com a vizinhança em busca de informação, e acaba se vendo obrigada a romper seu isolamento e ouvir as histórias alheias de cada um que compõem seu universo real. Quando finalmente entrega a caixa ao dono, o faz de maneira anônima e a satisfação vem puramente ao observá-lo feliz com o achado.

“Amélie, de repente, se sente em harmonia com ela mesma. Tudo é perfeito nesse momento. A suavidade da luz, o perfume no ar, o rumor tranquilo da cidade. Ela respira fundo. A vida lhe parece tão simples, que um elã de amor como o desejo de ajudar toda a humanidade a toma de repente.”

E assim, ela se sente motivada a fazer outras benevolências, mas vai ao fundo do poço ao perceber que não pode salvar a humanidade. Em uma cena na TV, vemos várias atitudes benevolentes envolvendo a personagem se doando, mas ela chora ao “assistir” sua própria ilusão.

“Luta perdida de antemão, que consumiu prematuramente sua vida. Com apenas 28 anos, Amélie Poulain, extenuada, deixou sua vida se esvair no redemoinho do sofrimento universal. Esperava-a o remorso lancinante de ter deixado seu pai morrer sem nunca ter tentado dar a esse homem asfixiado o sopro de ar que conseguira insuflarem tantos outros"

Sim, vemos aqui muito da dor pisciana de doação máxima, mas frustração por saber a dificuldade de realizar tais façanhas. A “paralisia” que pode nos atingir com essa aflição não dura muito na personagem. De maneira travessa, mercuriana, jupiteriana, como uma criança, ela começa a colocar em prática esse plano: faz o duende do pai viajar o mundo para incentivá-lo a fazer o mesmo, provoca a aproximação amorosa de dois conhecidos, invade a casa do vizinho para pregar-lhe uma lição etc.. Sua observação a ajuda a perceber as necessidades alheias e mistura sua criatividade e lógica para resolvê-las.

É cumprindo esse desejo de ajudar outra pessoa que surge o interesse em se aproximar amorosamente de um rapaz. Até mesmo nessa interatividade ela continua moldando a situação com criatividade e lógica para se sentir segura, até que, aos pouquinhos, deixa-se apaixonar e perceber que outras pessoas também podem cuidar dela.

Sair desse isolamento do alto ideal (perfeito – seja pelo lúdico, seja pelo detalhismo) e entrar em contato com as necessidades alheias é um equilíbrio muito interessante desse eixo Virgem & Peixes. De que adianta tanta observação e capacidade analítica se não nos dispusermos a participar dessa interatividade e fazer parte da cena pintada também? É aos poucos, medindo o terreno onde pisa, que a personagem ousa interagir até se sentir confortável para uma entrega. Amélie não está mais trancada no aquário, ela salta para a realidade e se permite entrar em águas fluídas e pertencer ao todo.

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